terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Maradona não é o único culpado

Quem tem medo da soberba precisa calar a voz interior e a voz da multidão

Quem peca mais: a pessoa que se envaidece ou os que a envaidecem?

Na verdade o envaidecimento é um pecado coletivo. O vaidoso precisa de quem o envaideça cada vez mais e promove isso. Outras vezes, o ponto de partida não começa com o vaidoso, mas com aqueles que o endeusam.

Segundo o artigo do escritor inglês Martin Amis, publicado no carderno “Mais!” do Jornal do Brasil (24/10/2004, p. 5), o jogador Jorge Valdano disse a respeito de seu colega Diego Maradona, hoje com 43 anos: “Coitado do Diego. Durante tantos anos nós lhe dissemos sem parar ‘você é Deus’, ‘você é um astro’, que esquecemos de lhe dizer o mais importante: ‘Você é um homem’.”

Aquele que com justa razão morre de medo da soberba precisa vigiar os dois lados: a propensão natural à vaidade e o processo de divinização a que está sujeito. Não pode dar asas a nenhum dos dois. Precisa calar a voz interior e a voz da multidão.

Paulo levou ambas as medidas muito a sério. O apóstolo trancou as portas do auto-envaidecimento: “Quanto a mim, que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gl 6.14). Trancou também as portas que Maradona não se lembrou de fechar. Quando a multidão de Listra, na atual Turquia, começou a gritar que ele e Barnabé eram deuses em forma humana, os dois missionários, em vez de atiçá-los, reagiram energicamente: “Nós também somos humanos como vocês” (At 14.15).

Qualquer vaidade em qualquer área é bíblica e historicamente desastrosa. Em qualquer tempo, “a desgraça está um passo depois do orgulho”, e “logo depois da vaidade vem a queda” (Pv 16.18, BV).

Há mais de 20 anos, Maradona era a “pessoa mais conhecida do mundo”, de acordo com uma sondagem do International Management Group. Em 1984, aos 23 anos, ele recebia 7 milhões de dólares por ano do Napoli, mais 3 milhões da televisão italiana e 5 milhões da Hitachi. Dez anos depois, o mais famoso jogador de futebol do mundo (depois de Pelé) foi expulso da Copa de 1994 por ser um dependente de drogas. Agora, escreve Martin Amis, “ele precisa de autorização médica até mesmo para ‘assistir’ a uma partida de futebol pela TV”.

O bispo anglicano Dom Robinson Cavalcanti costuma dizer que a igreja evangélica brasileira é liderada por “caciques que ardem na fogueira da vaidade”. E isso acontece tanto na ala histórica como na ala pentecostal. Qual seria o grau de responsabilidade e culpabilidade das igrejas nesse perigoso processo?

Revista Ultimato - edção 292/2005 - mais do que noticias
http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/292/mais-do-que-noticias

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