quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Lindo és + Só quero ver você - Juliano Son


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O Sacrifício Pacífico: A Comunhão

O Sacrifício Pacífico: A Comunhão
 Lição 10 - Ofertas Pacíficas para um Deus de Paz
3º Trimestre 2018 - ADORAÇÃO, SANTIDADE E SERVIÇO
Os Princípios de Deus Para a Sua Igreja em Levítico - CPAD

Quanto mais atentamente consideramos as ofertas, mais amplamente vemos que nenhum sacrifício apresenta um tipo completo de Cristo. É só comparando-as em conjunto que se pode obter uma idéia algo tanto exata. Cada oferta, como era de esperar, tem as suas próprias características. O sacrifício pacífico difere do Holocausto em muitos pontos; e uma compreensão clara dos pontos em que qualquer figura difere das outras ajudar-nos-á a compreender o seu significado especial.

A Diferença entre o Holocausto e o Sacrifício de Pacífico
Assim, quando comparamos o sacrifício pacífico com o holocausto, descobrimos que o tríplice ato de "esfolar", "partir em pedaços" e "lavar a fressura e as pernas" é inteiramente omitido. Mas isto é natural. No holocausto, como temos notado, encontramos Cristo oferecendo-se a Si mesmo a Deus e sendo aceito. Por isso tinha de ser simbolizada não só a Sua inteira rendição como também o processo de perscrutação a que Ele se submeteu. Na oferta pacífica o pensamento principal é a comunhão do adorador. Não é Cristo como objeto exclusivamente deleitável para Deus, mas de gozo para o adorador, em comunhão com Deus. Por isso a ação é menos intensa, em toda a linha.
Nenhum coração, por muito elevado que seja o seu amor, pode, de modo algum, elevar-se à altura da dedicação de Cristo a Deus ou da aceitação de Cristo por Deus. Ninguém senão o próprio Deus podia anotar devidamente as pulsações do coração que batia no seio de Jesus; e, portanto, era necessário um símbolo para mostrar este aspecto da morte de Cristo, a saber, a Sua perfeita dedicação a Deus na morte. Este símbolo têmo-lo no holocausto, a única oferta em que observamos a ação tríplice a que acima nos referimos.
Assim também em referência ao caráter do sacrifício. No holocausto, a vítima devia ser "macho sem mancha"; ao passo que no sacrifício pacífico podia ser "macho ou fêmea", contanto que não houvesse neles qualquer mancha. A natureza de Cristo, quer O consideremos como sendo apreciado exclusivamente por Deus ou pelo adorador em comunhão com Deus, deve ser sempre a mesma. Não pode haver alteração nela. A única razão por que era consentido oferecer uma fêmea no sacrifício pacífico era para se avaliar a capacidade do adorador quanto à apresentação do bendito Ser que, em Si mesmo, "é o mesmo ontem, hoje e para sempre" (Hb 13).
Além disso, no holocausto lemos, "o sacerdote tudo queimará"; ao passo que no sacrifício pacífico só uma parte era queimada, isto é, "a gordura, os rins e o redenho". Isto torna o caso muito simples. A porção mais excelente do sacrifício era posto sobre o altar de Deus. As entranhas — as ternas sensibilidades do bendito Jesus eram dedicadas a Deus como o único que podia perfeitamente apreciá-las. Aarão e seus filhos alimentavam-se do "peito" e da "espádua direita" (') (Veja-se atentamente Lv 7:28-36). Todos os membros da família sacerdotal, em comunhão com o seu chefe, tinham a sua própria porção da oferta pacífica. E agora todos os verdadeiros crentes, constituídos pela graça sacerdotes para Deus, podem alimentar-se das afeições e da força da verdadeira oferta pacífica — podem f ruir a feliz certeza de terem o seu coração amantíssimo e o Seu ombro poderoso para os confortar e suster continuamente (2)." Esta é a porção de Arão e a porção de seus filho, das ofertas queimadas do Senhor, no dia em que os apresentou para administrar o sacerdócio ao Senhor. O que o Senhor ordenou que se lhes desse dentre os filhos de Israel no dia em que os ungiu estatuto perpétuo é pelas suas gerações" (Lv 7:35-36).
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(1) "O peito" e "a espádua" são emblemáticos de amor e poder — força e afeição.
(2) Há força e beleza no versículo 31: "... o peito será de Aarão e de seus filhos". É privilégio de todos os verdadeiros crentes alimentarem-se das afeições de Cristo — do amor imutável desse coração que bate com amor imortal e imutável por eles.

Uma Porção Comum entre Deus e os Sacerdotes
São importantes todos estes pontos de diferença entre o holocausto e o sacrifício pacífico; e quando considerados em conjunto, mostram com grande clareza as duas ofertas perante a mente. No sacrifício pacífico há mais alguma coisa do que a dedicação abstrata de Cristo à vontade de Deus. O adorador é apresentado, não simplesmente como espectador, mas como participante não apenas para observar mas para se alimentar. Isto dá um caráter notável a esta oferta. Quando observo o Senhor Jesus no holocausto, vejo-o como Aquele cujo coração foi consagrado ao objetivo de glorificar Deus e cumprir a Sua vontade. Mas quando O vejo no sacrifício pacífico, descubro Aquele que tem um lugar no Seu coração amantíssimo e sobre os Seus ombros poderosos para um pecador indigno e desam­parado. No holocausto, o peito, as pernas e as entranhas, a cabeça e a gordura, tudo era queimado em cima do altar — tudo subia como cheiro suave a Deus. Porém no sacrifício pacífico a própria porção que me convém é reservada para mim. E não tenho de alimentar-me daquilo que satisfaz a minha própria necessidade na solidão. De modo nenhum. Alimento-me em comunhão com Deus e em comunhão com os meus companheiros no sacerdócio. Alimento-me com o perfeito e feliz conhecimento que o mesmíssimo sacri­fício que nutre a minha alma tem já satisfeito o coração de Deus; e, além disso, de que a mesma porção que me alimenta também alimenta todos os meus companheiros em adoração. A ordem da comunhão encontra-se aqui — comunhão com Deus e comunhão com os santos. Não havia nada que se parecesse com isolamento na oferta pacífica. Deus tinha a Sua porção e a família sacerdotal tinha a sua.


Assim é com o Antítipo do sacrifício pacífico. O mesmo Jesus que é o objeto das delícias do céu é a fonte de gozo, de força e de conforto para todo o coração crente; e não só para cada coração, em particular, mas também para toda a Igreja de Deus, em comunhão. Deus, em Sua infinita graça tem dado ao Seu povo o mesmo objetivo que Ele tem. "A nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo" (1 Jo 1:3). É verdade que os nossos pensamentos acerca de Jesus nunca poderão chegará altura dos pensamentos de Deus. A nossa apreciação de um tal objeto deve ficar sempre muito aquém da Sua; e, por isso, no símbolo, a casa de Arão não podia participar da gordura.
Mas, apesar de nunca podermos atingir o padrão de apreço divino da Pessoa de Cristo e do Seu sacrifício, estamos todavia ocupados com o mesmo objeto e portanto a casa de Arão tinha "o peito e a espádua direita". Tudo isto está repleto de conforto e alegria para o coração. O Senhor Jesus Cristo—Aquele que "foi morto, mas vive para todo o sempre", é agora o objeto exclusivo ante os olhos e pensamentos de Deus; e, em graça perfeita, Deus deu-nos uma parte nesta mesma bendita e gloriosa Pessoa. Cristo é também o nosso objetivo — o objetivo dos nossos corações e tema do nosso cântico. "Havendo feito a paz, pelo sangue da sua cruz", subiu ao céu e enviou o Espírito Santo, o "outro Consolador", por cujo ministério poderoso nos alimentamos do "peito e da espádua direita" do divino "Sacrifício Pacífico". Ele é, na verdade, a nossa paz; e temos o gozo inexcedível de saber que o agrado de Deus na obra da nossa paz é tal que o cheiro suave da nossa oferta pacífica deu alegria ao Seu coração. Este fato dá um encanto peculiar a este símbolo. Cristo, como holocausto, desperta a admiração dos nossos corações; Cristo, como sacrifício pacífico, estabelece a paz da consciência e satisfaz as múltiplas e profundas necessidades da alma. Os filhos de Arão podiam prostrar-se em redor do altar do holocausto: podiam observar como a chama desse sacrifício subia para o Deus de Israel; podiam ver o sacrifício reduzido a cinzas; podiam, à vista de tudo isto, curvar as suas cabeças e adorar; mas ao retirarem-se nada levavam para si mesmos. Não sucedia o mesmo com o sacrifício pacífico. Neste eles viam não só o que podia emitir um cheiro suave para Deus, mas também render uma porção substancial para si mesmos, da qual podiam alimentar-se em feliz e santa comunhão.

O Gozo da Comunhão
E, certamente, é motivo de grande alegria para todo o verdadeiro sacerdote saber (para empregar a linguagem do nosso símbolo) que Deus teve a Sua parte, antes de ele receber o peito e a espádua. Este pensamento dá força e fervor, engrandecimento e alegria ao culto e à comunhão. Revela a graça maravilhosa d'Aquele que nos deu o mesmo objetivo, o mesmo tema, e a mesma alegria que Ele tem. Nada inferior—nada menos do que isto podia satisfazê-Lo. O Pai quer que o pródigo se alimente do bezerro cevado, em comunhão consigo. Não lhe dá um lugar inferior à Sua própria mesa, nem qualquer outra porção senão aquela de que Ele Próprio se alimenta. A linguagem do sacrifício é esta: "era justo alegrarmo-nos e folgar­mos" — "comamos e alegremo-nos". Tal é a preciosa graça de Deus! Sem dúvida, temos motivos para nos alegrarmos, pois participamos de uma tal graça. Porém, quando podemos ouvir o bendito Deus dizer "comamos e alegremo-nos", dos nossos corações devia brotar uma corrente contínua de louvores e ações de graças. O gozo de Deus na salvação de pecadores e o Seu gozo na comunhão dos santos podem muito bem despertar a admiração dos homens e dos anjos por toda a eternidade.

A Diferença entre a Oferta de Manjares e o Sacrifício Pacífico
Havendo assim comparado o sacrifício pacífico com o holocausto, podemos, agora, observar rapidamente a sua relação com a oferta de manjares. Aqui o ponto principal de diferença é este: no sacrifício pacífico havia derramamento de sangue; na oferta de manjares não. Ambos eram ofertas de "cheiro suave"; e, como aprendemos no capítulo 7:12, as duas ofertas estavam intimamente ligadas entre si. Ora, tanto a relação como o contraste são cheios de significado e instrução.
É só em comunhão com Deus que a alma pode deleitar-se na contemplação da humanidade perfeita do Senhor Jesus Cristo. Deus o Espírito Santo deve dar assim como deve dirigir, pela Palavra, a visão mediante a qual podemos contemplar o "Homem Cristo Jesus". Ele podia ter sido revelado "em semelhança da carne do pecado"; podia ter vivido e laborado na terra; podia ter brilhado entre as trevas deste mundo, em todo o fulgor celestial e beleza inerente à Sua Pessoa; podia ter passado rapidamente, como astro brilhante, através do horizonte deste mundo; e durante todo o tempo ter permanecido fora do alcance da visão do pecador.
O homem não podia sentir o gozo profundo de comunhão com tudo isto, simplesmente porque não havia base para esta comu­nhão. No sacrifício pacífico, a base indispensável está inteira e claramente estabelecida. "E porá a sua mão sobre a sua cabeça, e a degolará diante da tenda da congregação: e os filhos de Aarão espargirão o sangue sobre o altar em redor" (versículo 2). Temos aqui o que a oferta de manjares não proporciona, quer dizer, um fundamento sólido para a comunhão do adorador com toda a plenitude, preciosidade e beleza de Cristo, tanto quanto ele, pela energia do Espírito Santo, é capaz de penetrar.
Para ter comunhão com Deus devemos estar "na luz". E como podemos estar nela? Só com base nesta preciosa declaração. "O sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado" (l Jo 1:7). Quanto mais permanecermos na luz, mais profunda será a nossa compreensão de tudo que seja contrário a essa luz, e mais profundo também será o sentimento do valor desse sangue que nos dá o direito de estarmos na luz. Quanto mais perto andarmos de Deus, mais conheceremos "as riquezas incontáveis de Cristo".

O Precioso Exemplo do Filho Pródigo (ou: Perdido)
É absolutamente necessário conhecer a verdade de que estamos na presença de Deus somente como participantes da vida divina e beneficiando da justiça divina. O Pai só podia ter o pródigo à sua mesa vestido com "o melhor vestido" e em toda a integridade daquele parentesco em que o via. Tivesse o pródigo conservado os seus andrajos ou sido admitido "como um dos servos da casa, e nós nunca teríamos ouvido essas gloriosas palavras, "comamos e alegremo-nos; porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado". Assim acontece com todos os verdadeiros crentes. A sua velha natureza não é reconhecida como existente diante de Deus. Ele considera-a morta, e assim eles a deviam considerar. Esta morta para Deus — morta para a fé. Deve ser mantida no lugar da morte. Não é melhorando a nossa velha natureza que chegamos à presença divina; mas como possuidores de uma nova natureza. Não foi remendando os trapos da sua condição anterior que o pródigo obteve um lugar à mesa do Pai, mas por ter sido vestido com um vestido que nunca havia visto ou pensado. Não trouxe esse vestido da "terra longínqua", nem o obteve de caminho; mas o pai tinha-o para ele em casa. O pródigo não o fez nem ajudou a fazê-lo; mas o pai adquiriu-o para ele e alegrou-se por o ver vestido com ele. Foi assim que se assentaram à mesa para se alimentarem em feliz comunhão "do bezerro cevado".

A Lei do Sacrifício Pacífico
Prosseguirei agora citando na íntegra a lei do Sacrifício Pacífico, na qual encontramos alguns pontos adicionais de grande interesse — pontos que lhe são peculiares.
"E esta é a lei do sacrifício pacífico que se oferecerá ao Senhor: Se o oferecer por oferta de louvores, com o sacrifício de louvores, oferecerá bolos asmos amassados com azeite e coscorões asmos amassados com azeite; e os bolos amassados com azeite serão fritos, de flor de farinha. Com os bolos oferecerá pão levedado como sua oferta, com o sacrifício de louvores da sua oferta pacífica. E de toda oferta oferecerá um deles por oferta alçada ao Senhor, que será do sacerdote que espargir o sangue da oferta pacífica. Mas a carne do sacrifício de louvores da sua oferta pacífica se comerá no dia do seu oferecimento; nada se deixará dela até à amanhã. E, se o sacrifício da sua oferta for voto ou oferta voluntária, no dia em que oferecer o seu sacrifício se comerá; e o que dele ficar também se comerá no dia seguinte. E o que ainda ficar da carne do sacrifício ao terceiro dia será queimado no fogo. Porque, se da carne do seu sacrifício pacífico se comer ao terceiro dia, aquele que a ofereceu não será aceito, nem lhe será imputado; coisa abominável será, e a pessoa que comer dela levará a sua iniqüidade. E a carne que tocar alguma coisa imunda não se comerá; com fogo será queimada; mas da outra camequalquerque estiver limpo comerá dela. Porém, se alguma pessoa comer a carne do sacrifício pacífico, que é do Senhor, tendo ela sobre si a sua imundícia, aquela pessoa será extirpada dos seus povos.
E, se uma pessoa tocar alguma coisa imunda, como imundície de homem, ou gado imundo, ou qualquer abominação imunda, e comer da carne do sacrifício pacífico, que é do Senhor, aquela pessoa será extirpada dos seus povos" (Lv 7:11-21).

Distinção entre "pecado na carne" e "pecado na consciência"
É da máxima importância fazer distinção entre pecado na carne pecado na consciência. Se confundirmos os dois, as nossas almas serão necessariamente transtornadas e o nosso culto será manchado. Um exame atento de 1 Jo 1:8-10 lançará muita luz sobre este assunto, cuja compreensão é tão essencial para a devida apreciação de toda a doutrina do sacrifício pacífico e principalmente do ponto nele a que chegamos agora. Ninguém terá uma noção tão exata do pecado no íntimo como o homem que anda na luz. "Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós". No versículo precedente lemos que "... o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado". Aqui a distinção entre o pecado em nós e o pecado sobre nós está claramente estabelecida. Dizer que o crente tem pecado sobre si, na presença de Deus, é pôr em dúvida a eficácia purificadora do sangue de Jesus e negar a verdade divina a esse respeito. Se o sangue de Jesus pode purificar perfeitamente, então a consciência do crente está perfeitamente purificada. É assim que a Palavra de Deus põe a questão; e nós devemos sempre recordar que é de Deus mesmo que temos de aprender qual é, aos seus olhos, a verdadeira condição do crente.
Estamos mais dispostos a dizer a Deus o que somos em nós mesmos do que permitir que Deus nos diga o que somos em Cristo. Por outras palavras, estamos mais ocupados com a faculdade de perceber do que coma revelação que Deus nos dá de Si mesmo. Deus fala-nos baseado no que Ele é em Si mesmo e no que cumpriu em Cristo. Tal é a natureza e o caráter da Sua revelação, da qual a fé toma posse e assim enche a alma de perfeita paz. A revelação de Deus é uma coisa; a minha percepção é outra muito diferente.
Porém a mesma palavra que nos diz que não temos pecado sobre nós, diz-nos, com igual clareza e poder, que temos pecado em nós. "Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós". Todo aquele que tem a "verdade" em si também saberá que tem pecado "em si"; pois a verdade revela todas as coisas como são. Que devemos, então, fazer? É nosso privilégio andar de tal maneira no poder da nova natureza, que o "pecado", que habita em nós, não possa manifestar-se na forma de "pecados". A posição do cristão é de vitória e liberdade. Ele é libertado não só da pena do pecado, mas também do pecado como princípio dominante na sua vida. "Sabendo isto: que o nosso velho homem foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, afim de que não sirvamos mais ao pecado. Porque aquele que está morto, está justificado do pecado... não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências... porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça" (Rm 6:6-14). O pecado está ali em todo o seu aviltamento; porém o crente está "morto para ele". Como? Morreu em Cristo. Por natureza estava morto em pecado. Pela graça está morto para o pecado. Que direito pode alguém ter sobre um morto? Nenhum. Cristo "morreu de uma vez para o pecado", e o crente morreu n'Ele. "Ora, se já morremos com Cristo, cremos que tam­bém com ele viveremos; sabendo que havendo, Cristo ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não mais terá domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado, mas, quanto a viver, vive para Deus". Qual é o resultado disto, em relação aos crentes? "Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Rm 6:8-11). Tal é a posição inalterável do crente diante de Deus! Por isso é seu alto privilégio gozar liberdade do domínio do pecado sobre si, embora o pecado habite em si.

A Confissão dos Pecados
Mas, "se alguém pecar", que deve fazer? O apóstolo inspirado dá uma resposta clara e bendita: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 Jo 1:9). Confissão é a maneira de manter a consciência livre. O apóstolo não diz, "se orarmos por perdão, ele é benigno e misericordioso para nos perdoar" .Sem dúvida, é sempre um alívio para qualquer filho fazer chegar aos ouvidos do pai as suas necessi­dades — contar-lhe as suas fraquezas, confessar-lhe a sua loucura, defeitos e faltas. Tudo isto é muito verdade; e além disso é igualmente verdade que o nosso Pai é terno e misericordioso para atender os Seus filhos em todas as suas fraquezas e ignorância; porém, apesar de tudo isto ser verdade, o Espírito Santo declara, por intermédio do apóstolo, que, "se confessarmos os nossos pecados", Deus é fiel justo para nos perdoar. Portanto, a confissão é o método divino. Um cristão que tenha errado em pensamento, palavras ou ação, pode orar, pedindo perdão, durante dias e meses e não ter a certeza, segundo 1 João 1:9, de ter sido perdoado; ao passo que no momento em que verdadeira­mente confessar o seu pecado, diante de Deus, é simplesmente uma questão de fé saber que está perdoado e perfeitamente purificado.

A Diferença entre Pedir Perdão e Confessar os Pecados
Existe uma grande diferença moral entre orar pedindo perdão e confessar os nossos pecados, quer encaremos o problema em relação ao caráter de Deus, quer em relação ao sacrifício de Cristo ou ainda à condição da alma. É muito possível que a oração de uma pessoa envolva a confissão do pecado, qualquer que seja a sua natureza, e assim chegar ao mesmo resultado. Porém, é sempre bom não nos afastarmos da Escritura no que pensamos, dizemos e fazemos. É evidente que quando o Espírito Santo fala de confissão, não quer dizer oração. E é também evidente que Ele sabe que existem elemen­tos morais na confissão e que dela resultam efeitos práticos que não pertencem à oração. De fato, descobrimos amiúde que o hábito de importunar Deus com o pedido do perdão dos pecados revela ignorância a respeito da forma como Deus se revelou na Pessoa e obra de Cristo; acerca da relação em que o sacrifício de Cristo colocou o crente e quanto ao modo divino de alijar a consciência do fardo do pecado e de a purificar da mancha do pecado.
Deus ficou perfeitamente satisfeito, quanto aos pecados do cren­te, na cruz de Cristo. Na cruz foi feita completa expiação por todo o pecado na natureza do crente e na sua consciência. Por isso, Deus não necessita ainda de mais propiciação. Não precisa de qualquer coisa mais para despertar o Seu coração pelo crente. Não precisamos de Lhe suplicar que seja "fiel e justo", pois a Sua fidelidade e justiça foram gloriosamente patenteadas, justificadas e satisfeitas na morte de Cristo. Os nossos pecados nunca poderão vir à presença de Deus, visto que Cristo, que os levou todos e os tirou, está ali. Contudo, se pecamos, a consciência sente—deve senti-lo; sim, o Espírito Santo far-nos-á senti-lo. Não pode deixar passar um simples pensamento vão sem ser julgado. Então4 O nosso pecado abriu caminho para a presença de Deus? Terá encontrado lugar na luz pura do santuário? Deus nos livre! O "Advogado" está ali—"Jesus Cristo o Justo", para manter, em integridade inquebrantável, o parentesco em que nos encontramos. Todavia, embora o pecado não possa afetar os pensa­mentos de Deus a nosso respeito, pode afetar e afeta os nossos pensamentos em referência a Ele ('). Embora não tenha acesso à Sua presença, pode chegar à nossa, da maneira mais triste. Embora não possa ocultar o Advogado dos olhos de Deus, pode encobri-Lo dos nossos. Amontoa-se, como uma nuvem sombria e espessa, sobre o nosso horizonte espiritual, de sorte que as nossas almas não podem desfrutar a claridade bendita da face do Pai. Não pode afetar o nosso parentesco com Deus, mas pode afetar seriamente o dele. Que devemos, pois fazer? A Palavra de Deus responde: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça".

Por meio da confissão desembaraçamos a nossa consciência; o sentimento agradável da nossa posição de filhos é restaurado; a nuvem sombria dissipa-se; a influência desanimadora desaparece; os nossos pensamentos em relação a Deus são corrigidos. Tal é o método divino; e podemos dizer que, na realidade, o coração que sabe o que é ter estado no lugar da confissão sentirá o poder divino das palavras do apóstolo: "Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo PARA QUE NÃO PEQUEIS" (l Jo 2:l).
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(1) O leitor deve lembrar-se que o assunto tratado no texto deixa inteiramente por considerar uma verdade muito importante e prática ensinada em João 14:21-28, a saber, o amor particular do Pai para com o filho obediente e a comunhão especial de tal filho com o Pai e o Filho. Que esta verdade seja gravada em nossos corações pela pena do Deus Espírito Santo.
Em contrapartida, há um meio de orar pedindo perdão em que se perde de vista o fundamento perfeito do perdão, o qual foi lançado no sacrifício da cruz. Se Deus perdoa pecados, tem de ser "fiel e justo" ao perdoar. Mas é evidente que as nossas orações, por mais sinceras e fervorosas que sejam, nunca poderiam constituir a base da fidelidade e justiça de Deus para perdoar os nossos pecados. Nada, salvo a obra da cruz podia conseguir isto. Ali a fidelidade e a justiça de Deus foram plenamente estabelecidas, e isso também com relação imediata aos nossos pecados atuais e a sua raiz na nossa natureza. Deus já julgou os nossos pecados na Pessoa do nosso substituto "no madeiro"; e, no ato da confissão, nós julgamo-nos a nós próprios. Isto é essencial para se alcançar o perdão divino e restauração. O menor pecado por confessar e por julgar, na consci­ência, manchará inteiramente a nossa comunhão com Deus. O pecado em nós não requer este efeito; porém se permitirmos que o pecado permaneça sobre nós não podemos ter comunhão com Deus. Ele tirou os nossos pecados de tal maneira, que pode ter-nos na Sua presença; e enquanto estivermos na Sua presença o pecado não poderá perturbar-nos. Porém se saímos da Sua presença e comete­mos pecado, ainda que seja só em pensamento, a nossa comunhão deve, por necessidade, ser suspensa, até que, pela confissão, nos libertemos do pecado. Tudo isto está fundado exclusivamente sobre o sacrifício perfeito e a justa advocacia do Senhor Jesus Cristo.

O Julgamento Pessoal
Finalmente, a diferença entre a oração e a confissão, pelo que diz respeito ao estado do coração perante Deus, e o seu sentimento moral de aversão ao pecado, não pode ser, de modo algum considerada demais.
É muito mais fácil pedir, de uma maneira geral, o perdão dos nossos pecados do que confessar esses pecados. A confissão implica o julgamen­to pessoal; pedir o perdão pode não envolver e, em si, não envolve esse juízo. Isto, só por si, seria o suficiente para salientara diferença. O juízo próprio é um dos mais valiosos e saudáveis exercícios da vida cristã. Portanto, tudo que tende a produzi-lo deve ser altamente apreciado por todo o cristão sincero.
A diferença entre pedir perdão e confessar o pecado é continuamen­te exemplificada no nosso tratamento com as crianças. Se uma criança tem feito alguma maldade, acha menos dificuldade em pedir ao pai que a perdoe do que em confessar abertamente e sem reservas a maldade. Ao pedir perdão, a criança pode ter em seu pensamento um determi­nado número de coisas que tendam a diminuir o sentimento do mal, pode pensar que, afinal, não havia muita razão para a censurarem, embora seja conveniente pedir perdão ao pai; enquanto que, ao confes­sar a maldade, faz o seu próprio julgamento.
Além disso, ao pedir perdão a criança pode ser influenciada princi­palmente pelo desejo de escapar às conseqüências da sua maldade; enquanto que um pai sensato procurará despertar no filho exatamente a convicção do mal, e essa convicção só pode conseguir-se em relação com franca confissão da falta relacionada com o julgamento de si próprio.
Assim é também na maneira de Deus proceder para com os Seus filhos, quando eles procedem mal. Tudo tem de ser exposto comple­tamente e julgado pela pessoa. Ele quer fazer-nos recear não só as conseqüências do pecado — que são inexprimíveis — mas detestar também o próprio mal, por causa da sua hediondez aos Seus olhos. Se fosse possível, quando cometemos pecado, sermos perdoados simples­mente, porque pedimos perdão, a nossa compreensão do pecado e atitude perante ele não seriam tão intensas; e, como conseqüência, a nossa apreciação da comunhão com que somos abençoados não seria tão elevada. O efeito moral de tudo isto sobre o caráter da nossa constituição espiritual e a natureza da vida prática deve ser claro para todo o crente experimentado (1).
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(1) O caso de Simão, o mago, em Atos 8, pode apresentar uma dificuldade para o leitor. Mas basta dizer dele que uma pessoa que está "em fel de amargura e laço de iniqüidade" nunca podia ser apresentada como modelo para os filhos de Deus. O seu caso não interfere, de modo algum, com a doutrina de 1 João 1:9. Ele não tinha o parentesco de filho e, conseqüentemente, não beneficiava da advocacia do nosso Advogado junto do Pai. Devo acrescentar ainda que o assunto da oração do Senhor não está de modo algum envolvido neste caso. Desejo limitar-me à passagem que se segue. Devemos evitar sempre a adoção de regras rígidas. Uma alma pode clamar a Deus em quaisquer circunstâncias e pedir o que carece. Ele está sempre pronto a ouvir e a responder.

O "Pecado" e os "Pecados"
Esta série de pensamentos está intimamente relacionada e plenamente confirmada por dois princípios estabelecidos na "Lei do sacrifício pacífico".
No versículo 13 do capítulo 7 de Levítico lemos: "Com os bolos oferecerá pão levedado". E ainda no versículo 20 lemos: "Porém, se alguma pessoa comer a carne do sacrifício pacífico, que é do Senhor, tendo ela sobre si a sua imundícia, aquela pessoa será extirpada dos seus povos". Aqui temos as duas coisas claramente postas diante de nós, a saber; o pecado em nós e o pecado sobre nós. O "fermento" era permitido porque havia pecado na natureza do adorador. A "imun­dícia" não era permitida porque não devia haver pecado na consci­ência do adorador. Onde há pecado não pode haver comunhão. Deus tem provido expiação pelo sangue para o pecado que Ele sabe existir em nós. Por isso lemos acerca do pão levedado no sacrifício pacífico "E de toda oferta oferecerá um deles por oferta alçada ao Senhor, que será do sacerdote que espargir o sangue da oferta pacífica" (versículo 14). Por outras palavras, o "fermento" (2) na natureza do adorador estava perfeitamente expiado pelo "sangue" do sacrifício. O sacer­dote que recebe o pão levedado é quem deve espargir o sangue. Deus afastou da Sua vista o nosso pecado para sempre. Apesar do pecado estar em nós, não é objeto para fixar os Seus olhos. Ele vê só o sangue; e portanto pode andar conosco e consentir ininterrupta comunhão consigo. Porém, se permitirmos que "o pecado" que está em nós se desenvolva na forma de "pecados", então, tem de haver confissão, perdão e purificação, antes de podermos comer outra vez da carne da oferta pacífica. A exclusão do adorador, por causa de impureza mencionada no cerimonial, corresponde à suspensão de um crente da comunhão, por causa de pecado por confessar. Intentar ter comunhão com Deus em nossos pecados implicaria a blasfema insinuação de que Ele podia andar em companhia do pecado. "Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade" (1 Jo 1:6).
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(2) O leitor não deve esquecer que o fermento é sempre um símbolo do mal (N. do T.).

A luz da precedente linha de verdade, podemos finalmente ver quanto erramos, quando supomos ser um sinal de espiritualidade estarmos ocupados com os nossos pecados. Poderia o pecado ou os pecados jamais serem o fundamento ou alimentar a nossa comunhão com Deus? Não, certamente. Já vimos que, enquanto o pecado é o objetivo que temos perante nós, a comunhão tem de ser interrom­pida. A comunhão só pode ser "na luz"; é indubitável que não há pecado na luz. Na luz só se pode ver o sangue que tirou os nossos pecados e nos trouxe para perto, e o Advogado que nos mantém perto de Si. O pecado foi esquecido para sempre naquele lugar onde Deus e o adorador se encontram em santa comunhão. O que é que constituiu o elemento de comunhão entre o Pai e o pródigo? Foram os trapos deste? Foram as bolotas da "terra longínqua"1?- De modo nenhum. Não foi nada que o pródigo trouxe consigo. Foi a rica provisão do amor do Pai—"o bezerro cevado". Assim é com Deus e o verdadeiro adorador. Alimentam-se em conjunto e elevada comu­nhão d'Aquele cujo precioso sangue os associou para sempre nessa luz da qual nenhum pecado pode jamais acercar-se.
Nem por um instante precisamos de supor que a verdadeira humildade se mostre ou se promova recordando os nossos pecados ou lamentando-nos sobre eles. Uma tristeza impura e dolorosa pode assim ser aumentada; mas a verdadeira humildade salta sempre de uma origem totalmente diferente.
Quando é que o pródigo mais se humilhou? Quando "caiu em si", na terra longínqua, ou quando chegou a casa do Pai e se reclinou no seu seio? Não é evidente que a graça que nos eleva às mais elevadas alturas de comunhão com Deus, é a única que nos conduz às maiores profundidades de uma genuína humildade? Sem dúvi­da. A humildade que tem a sua origem na remoção dos nossos pecados deve ser sempre mais profunda do que aquela que resulta de os descobrirmos. A primeira liga-nos com Deus; a última relaci­ona-nos com o ego. O meio de se ser verdadeiramente humilde é andar com Deus no conhecimento e poder do parentesco em que Ele nos colocou. Ele fez-nos Seus filhos; e se andarmos como tais seremos humildes.

A Ceia do Senhor
Antes de deixarmos esta parte do assunto, quero fazer uma observação sobre a ceia do Senhor, que, sendo um ato proeminente da comunhão da Igreja, pode, com estrita propriedade, ser conside­rada em ligação com a doutrina do sacrifício pacífico. A celebração inteligente da ceia do Senhor deve depender sempre do reconheci­mento do Seu caráter puramente eucarístico ou de ações de graças. É especialmente uma festa de ação de graças — ação de graças por uma redenção cumprida. "Porventura, o cálice de bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é, porventura, a comunhão do corpo de Cristo?" (1 Co 10:16). Por isso, uma alma curvada sob o peso do fardo do pecado não pode comer a ceia do Senhor com inteligência espiritual, visto que essa festa é expressiva da completa remoção do pecado pela morte de Cristo:"... anunciais a morte do Senhor, até que venha" (1 Co 11:26). Na morte de Cristo, a fé vê o fim de tudo que pertencia ao nosso lugar na velha criação; e, visto que a ceia do Senhor anuncia essa morte, deve ser considerada como a recordação do fato glorioso que o fardo do pecado do crente foi levado por Aquele que o tirou para sempre.
Declara que a cadeia dos nossos pecados, com que estávamos presos e amarrados, foi partida para sempre pela morte de Cristo e não pode j amais prender-nos ou amarrar-nos de novo. Nós reunimo-nos ao redor da mesa do Senhor com toda a alegria de vencedores. Volvemos os olhos para a cruz onde se travou e ganhou a batalha; e antevemos a glória em que entraremos nos resultados plenos e eternos da vitória.
Decerto, temos "fermento" em nós; mas não temos nenhuma "imundície" sobre nós. Não temos que fixar os olhos nos nossos pecados; mas, sim, n Aquele que os levou sobre a cruz e os tirou para sempre. Não temos de nos enganar a nós mesmos com a idéia presunçosa de que "não temos pecado" em nós; nem vamos negar a verdade da Palavra de Deus e a eficácia do sangue de Cristo recusando alegrarmo-nos com a verdade preciosa que não temos pecado sobre nós, porque "o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado". É verdadeiramente deplorável ver a nuvem carregada que se forma sobre a ceia do Senhor, com o parecer de tantos cristãos professos. Este fato contribui, tanto como tudo o mais, para revelar a enorme falta de compreensão a que se pode chegar com respeito às verdades mais elementares do evangelho. De fato, sabemos que quando a ceia do Senhor é tomada por uma razão qualquer que não seja o conhecimento da salvação — o gozo do perdão —, consciência da libertação, a alma é envolvida em maior obscuridade do que nunca.
Aquilo que é apenas um memorial de Cristo é usado para O deslocar. Aquilo que celebra uma redenção efetuada é empregado como um degrau para ela. É assim que se abusa das ordenações, as almas são submergidas nas trevas e cai-se na confusão e no erro.

O Valor do Sangue de Cristo
Quão diferente de tudo isto é a bela ordenação do sacrifício pacífico! Neste, considerado sob a sua importância simbólica, vemos que, logo que o sangue era derramado, Deus e o adorador podiam alimentar-se em feliz e pacífica comunhão. Nada mais era necessário. A paz estava estabelecida pelo sangue; e, sobre essa base, prosseguia a comunhão. Uma simples dúvida quanto ao estabele­cimento da paz é fatalmente o golpe mortal na comunhão. Se estamos ocupados com esforços inúteis para conseguir a paz com Deus, então desconhecemos totalmente o que é a comunhão e o culto. Se o sangue do sacrifício pacífico não foi derramado, é impossível alimentarmo-nos com "o peito" ou a "espádua". Mas, por outro lado, se o sangue foi derramado, então a paz já está feita. Deus mesmo fez a paz e isto é bastante para a fé; e, portanto, pela fé temos comunhão com Deus, no conhecimento e gozo da reden­ção efetuada. Provamos a frescura do próprio gozo de Deus naquilo que Ele fez. Alimentamo-nos de Cristo em toda a plenitude e bem-aventurança da presença de Deus.

O Culto
Este último ponto está relacionado e baseado sobre outra verda­de fundamental da "lei do sacrifício pacífico". "Mas a carne do sacrifício de louvores da sua oferta pacífica se comerá no dia do seu oferecimento; nada se deixará dela até amanhã." Quer dizer, a comunhão do adorador nunca deve separar-se do sacrifício sobre o qual a comunhão está baseada. Desde que se tenha energia espiritual para manter a conexão, o culto e a comunhão subsistirão em frescura e aceitação, mas só assim. Devemos estar perto do sacrifício, no espírito do nosso entendimento, as afeições do nosso coração e a experiência das nossas almas. É isto que dará poder e duração ao nosso culto. Pode dar-se o caso de começarmos qualquer ato ou expressão de culto com os nossos corações ocupados imediatamen­te com Cristo; e, antes de chegarmos ao fim, estarmos ocupados com o que estamos fazendo ou dizendo ou com as pessoas que nos escutam; e, desta forma, caímos naquilo que pode chamar-se "ini­qüidade nas nossas coisas santas". Isto é profundamente solene e deveria tornar-nos vigilantes. Começamos o culto no Espírito e acabamos na carne. Devemos ter sempre o cuidado de não nos afoitarmos a proceder, nem por um momento, para lá da energia do Espírito, porque o Espírito manter-nos-á sempre ocupados com Cristo. Se o Espírito Santo nos inspira "cinco palavras" de adoração ou de ações de graças, pronunciemos as cinco e calemo-nos. Se continuarmos a falar, estamos comendo a carne do nosso sacrifício depois do tempo fixado; e, longe de ser "aceitável", é, na realidade, "uma abominação". Lembremo-nos disto e vigiemos. Não há neces­sidade para alarme. Deus quer que sejamos guiados pelo Espírito e assim cheios de Cristo em todo o nosso culto. Ele só pode aceitar aquilo que é divino; e, portanto, não quer que seja apresentado senão o que é divino.
"E, se o sacrifício da sua oferta for voto ou oferta voluntária, no dia em que oferecer o seu sacrifício se comerá; e o que dele ficar também se comerá no dia seguinte" (Lv 7:16). Quando a alma se eleva a Deus em um ato voluntário de adoração, tal adoração provêm de uma maior medida de energia espiritual do que quando procede simplesmente de alguma graça particular do próprio momento. Se se há recebido uma favor especial da mão do Senhor, a alma eleva-se imediatamente em ação de graças. Neste caso, o culto é suscitado por e ligado com esta mercê de graça, qualquer que possa ser, e acaba aí. Porém quando o coração é levado pelo Espírito Santo a qualquer expressão voluntária ou deliberada de louvor, o culto terá um caráter mais duradouro. Todavia, o culto espiritual ligar-se-á sem­pre com o precioso sacrifício de Cristo.
"E o que ainda ficar da carne do sacrifício ao terceiro dia será queimado no fogo. Porque, se da carne do seu sacrifício pacífico se comer ao terceiro dia, aquele que a ofereceu não será aceito, nem lhe será imputado; coisa abominável será, e a pessoa que comer dela levará a sua iniqüidade". Nada tem qualquer valor, segundo o juízo de Deus, senão aquilo que está intimamente ligado com Cristo. Pode existir muita aparência de culto, e ser, afinal, a mera excitação e expressão de sentimentos naturais. Pode haver uma grande apa­rente devoção, que é, simplesmente, devoção carnal.
A natureza pode excitar-se, no campo religioso, de diversas maneiras, tais como pompa, cerimônias, procissões, atitudes, ricas vestimentas, uma liturgia eloqüente e todos os atrativos de um esplêndido ritualismo; e, contudo, pode haver uma absoluta ausên­cia de culto espiritual. Sim, acontece freqüentemente que os mes­mos gostos e inclinações, que são excitados e satisfeitos por formas pomposas de um culto chamado religioso, encontrariam um ali­mento mais apropriado na ópera ou nos concertos.
Aqueles que sabem que "Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-Lo em espírito e em verdade" (João 4) e que desejam rememorá-Lo devem pôr-se em guarda contra tudo isto. A religião, assim chamada, reveste-se, em nossos dias, dos mais poderosos atrativos. Abandonando a grosseria da idade média, ela chama em seu auxílio todos os recursos de gosto requintado de um século iluminado e culto. A escultura, a música, e a pintura, vazam os seus ricos tesouros no seu seio, a fim de que ela possa, com isso, preparar um poderoso narcótico para embalar as multidões irrefletidas numa sonolência, que só será interrompida pelos indescritíveis horrores da morte, do juízo e do lago de fogo. Ela pode também dizer: "Sacrifícios pacíficos tenho comigo; hoje paguei os meus votos... Já cobri a minha cama com cobertas de tapeçaria, com obras lavradas com Unho fino do Egito; já perfumei o meu leito com mirra, aloés e canela" (Pv 7:14-17). Assim a religião corrompida seduz, por sua poderosa influência, aqueles que não querem escutar a voz celestial da sabedoria.
Guarde-se o leitor de tudo isto. Certifique-se de que o seu culto está inseparavelmente ligado com a obra da cruz. Veja se Cristo é o fundamento, Cristo o elemento e o Espírito Santo o poder do seu culto. Guarde-se de que o ato exterior do seu culto não se alongue para lá deste poder íntimo. É necessária muita vigilância para se evitar este mal. Os seus manejos secretos são dos mais difíceis de detectar e impedir. Podemos começar um hino no verdadeiro espírito de culto, e, por falta de poder espiritual, podemos, antes de chegar ao fim, cair no mal que corresponde ao ato do cerimonial de comer a carne do sacrifício pacífico ao terceiro dia. A nossa única salvaguarda consiste em estarmos perto de Jesus. Se elevarmos os nossos corações em "ações de graças" por qualquer mercê especial, façamo-lo no poder do nome e do sacrifício de Cristo. Se as nossas almas se elevam em adoração "voluntária", que seja na energia do Espírito Santo. Deste modo o nosso culto terá aquela frescura, essa fragrância e profundidade de tom, essa elevação moral, que devem resultar do fato de se ter o Pai por objeto, o Filho por fundamento e o Espírito Santo com o poder do culto.
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NOTA: É interessante observar que, embora o sacrifício pacífico seja o terceiro na ordem dos sacrifícios, contudo "a Lei" dele é dada depois de todos. Esta circunstância não deixa de ter a sua importância. Em nenhum dos sacrifícios a comunhão do adorador é tão claramente revelada como no sacrifício pacífico. No holocausto vemos Cristo oferecendo-se a Si mesmo a Deus. Na oferta de manjares, temos a perfeita humanidade de Cristo. Depois, passando ao sacrifício pelo pecado, aprendemos que o pecado em sua raiz é inteiramente expiado. No sacrifício pelo sacrilégio, há plena provisão para os pecados na vida presente. Mas em nenhum é revelada a comunhão do adorador. A comunhão pertence ao "sacrifício pacífico"; e, daí, creio, a posição que ocupa a ''lei deste sacrifício". Aparece no fim de todas, ensinando-nos com isso que, quando se trata de uma questão de a alma se alimentar de Cristo, tem de ser um Cristo completo, considerado sob todas as fases possíveis da Sua vida — o Seu caráter, a Sua Pessoa, Sua Obra, e Seu cargo. E, além disso, que, quando tivermos acabado para sempre com o pecado e os pecados, deleitar-nos-emos em Cristo e nos alimentaremos d'Ele por todos os séculos eternos. Seria, creio, uma falta grave no nosso estudo dos sacrifícios se deixássemos de considerar uma circunstância tão digna de ser notada como a que acabamos de frisar. Se a "lei do sacrifício pacífico" fosse dada pela ordem em que ocorre o próprio sacrifício viria imediatamente depois da lei da oferta de manjares; porém em vez disso, são dadas "A lei da expiação do pecado" e "a lei da expiação da culpa" e, então, em conclusão, segue-se a "lei do sacrifício pacífico".
Que assim seja, ó Senhor, com todos os que te adoram, até nos encontrarmos em corpo, alma e espírito na segurança da tua presença eterna, fora do alcance de toda a influência perniciosa do falso culto e da religião corrompida, e também fora do alcance dos diferentes impedimentos que provêm destes corpos de pecado e morte que trazemos em nós!

C. H. Mackintosh

Fonte: 3º Capítulo do Livro "Estudos sobre o Livro de Levítico" da coleção "Série de notas sobre o Pentateuco"

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